Com uma paixão que nasceu cedo e uma carreira marcada pela dedicação ao desporto automóvel, João Jordão, de 54 anos, está há mais de 14 anos à frente do ACP Motorsport. Licenciado em Marketing e Publicidade pelo IADE, junta a experiência em comunicação à emoção das pistas e à exigência da organização de alguns dos maiores eventos de ralis em Portugal.
Nesta entrevista exclusiva, fala-nos sobre o percurso que o trouxe até aqui, os bastidores do Vodafone Rally de Portugal, a aposta do ACP na formação de jovens pilotos, e o que falta para que Portugal continue a acelerar rumo ao topo do automobilismo internacional.
1. Como começou o seu percurso no mundo dos ralis e do desporto motorizado?
Desde muito novo que o automobilismo tem sido uma enorme paixão, sendo que essa ligação emocional ao desporto foi acompanhada por um percurso profissional ligado à comunicação e ao marketing, o que acabou por se cruzar naturalmente com o mundo das organizações desportivas.
2. Tendo formação em Marketing e Publicidade, como é que essas competências contribuíram para o crescimento e projeção do Departamento que dirige?
Diria que mais do que a vertente da comunicação, aquilo que trouxe comigo da formação e da experiência em Marketing e Publicidade foi a capacidade de lidar com projetos, equipas e timings muito apertados, algo que tem imensas semelhanças com a organização de uma prova desportiva. Desde cedo estive envolvido em eventos e ações promocionais, o que me deu uma visão prática e realista sobre o que é preciso para pôr de pé iniciativas complexas. Esse conhecimento aplicado tem sido essencial para conseguir estruturar e realizar os mais diversos eventos desportivos do ACP.
3. O Vodafone Rally de Portugal é um dos eventos mais esperados do ano. O que é que torna esta prova tão especial e diferente das restantes no campeonato mundial?
O Vodafone Rally de Portugal tem alma. É um evento com história, com um público único no mundo e com um percurso sempre desafiador tanto para máquinas como para pilotos. A ligação emocional entre o público português e a sua prova é algo que não se encontra facilmente noutros países, o que faz deste evento um dos melhores do Mundial e isso é algo de que todos nos orgulhamos muito no ACP.
4. Organizar eventos com esta dimensão não deve ser tarefa fácil. Quais são os maiores desafios que enfrenta na preparação de uma temporada como a de 2025?
A logística e a coordenação de um evento desta grandeza e complexidade com entidades locais, forças de segurança, patrocinadores, equipes participantes e media nacional e internacional são sempre um grande desafio. Cada detalhe conta. Além disso, há a pressão constante de manter e superar os padrões de qualidade exigidos pela Federação Internacional do Automóvel e pelo promotor do WRC.
5. A formação de jovens através do Karting tem sido uma grande aposta do ACP. Acredita que estamos a preparar o futuro do automobilismo português?
Sem dúvida. O Karting é a base do automobilismo e o nosso objetivo é dar oportunidades a jovens talentos que, de outra forma, não conseguiriam iniciar-se nesta modalidade. Acreditamos que alguns dos pilotos que hoje participam na nossa Formação de Karting ACP poderão ser os nomes grandes do futuro do desporto motorizado em Portugal.
6. Como vê atualmente o panorama do desporto motorizado em Portugal, tanto a nível de organização como de talento nacional?
Temos evoluído muito. A nível organizativo, Portugal é hoje uma referência internacional. Em termos de talento, temos pilotos muito competentes, mas ainda falta reforçar estruturas de apoio, patrocínios e acesso a competições de alto nível com mais regularidade.
7. Considera que os pilotos portugueses têm boas oportunidades de chegar aos palcos internacionais? O que ainda falta para que isso aconteça com mais frequência?
As oportunidades existem, mas são escassas e muito dependentes de apoios financeiros. Falta-nos um ecossistema mais robusto que ajude os pilotos a fazer essa transição. O talento existe, é preciso criar as condições para que o talento se transforme em resultados ao mais alto nível.
8. Além do Rally de Portugal, que outros eventos no calendário 2025 destacaria e porquê?
O BP Ultimate Rally-Raid Portugal, que é a única prova europeia no Campeonato Mundial FIA de Rally-Raid, a Baja de Portalegre 500 uma das principais provas de todo-terreno no Mundo e que faz parte da Taça do Mundo FIA de Bajas, as sempre entusiasmantes 24 Horas de Fronteira em todo-terreno e mais recentemente o Monte Gordo Sand Race, prova do Campeonato do Mundo de Corridas de Areia da FIM, entre muitas outras iniciativas que realizamos todos os anos.
9. Que conselhos daria a quem sonha com uma carreira no desporto motorizado, seja como piloto, organizador ou técnico?
Persistência, paixão e preparação. Este é um mundo exigente e competitivo, mas também pode ser muito recompensador para quem tem paixão pelo mesmo.
10. Como imagina o futuro do ACP Motorsport e do desporto automóvel português nos próximos 10 anos?
Queremos continuar a trazer grandes eventos para Portugal e manter a nossa posição como referência internacional em termos organizativos. O caminho é desafiante e cada vez mais difícil, mas estamos preparados para o continuar a percorrer com ambição.