À frente do projeto “É de Leiria”, Ricardo António Marques, responsável pela Divisão de Turismo e Eventos da Câmara Municipal de Leiria, tem sido uma das vozes mais ativas na valorização do território e dos seus produtos locais. Nesta entrevista, fala-nos sobre as origens da iniciativa, os desafios da promoção regional e o papel dos leirienses como verdadeiros embaixadores da sua cultura.
Como começou o projeto “É de Leiria”?
Durante a pandemia, quando tudo teve de parar e o turismo ainda era uma divisão recente, criámos a marca “Visite Leiria”, com o objetivo de promover o território e a nossa cultura.
Envolvemos primeiro o produto Brisas, sendo que as Brisas do Lis já tinham sido desenvolvidas antes da pandemia no âmbito de um concurso, e foi nesse momento que demos identidade a esta marca e fortalecemos em termos de comunicação. Esse foi o embrião do “É de Leiria”.
Depois juntámos o produto Leitão da Boa Vista. Na altura, existia o objetivo de obter uma certificação para o leitão, mas esse é um processo complexo e percebemos que estávamos a perder algum tempo e que era importante começar a promover o Leitão da Boa Vista, o que nos levou à criação desta marca.
Cerca de um ano depois, juntou-se o produto Morcela de Arroz de Leiria, que está atualmente num processo de certificação em curso. Desenvolvemos, então, um conjunto de iniciativas em parceria com os produtores de cada uma destas áreas.
Este ano juntámos um quarto produto, que representa uma arte e tradição local: a Olaria da Bajouca. É um produto que queremos valorizar e promover em conjunto com as restantes marcas.
A nossa intervenção tem sempre como objetivo acrescentar valor e melhorar a comunicação, através de uma forte presença nos meios digitais, em outdoors e em eventos.
Que impacto é que este projeto tem tido na identidade cultural de Leiria?
Temos vindo a perceber que “o que não se comunica, não existe”, muito em linha com o nosso lema, “Leiria não existe”.
Nos últimos tempos, tem-se verificado um incremento de negócios, com maior notoriedade e reconhecimento dos produtos, bem como uma curiosidade crescente por parte dos visitantes em conhecer e adquirir o que é nosso.
Trabalhamos muito o envolvimento local, considerando os leirienses como verdadeiros embaixadores dos nossos produtos. Este é o nosso foco em termos de comunicação local: reforçar o sentimento de pertença, a valorização da identidade e o orgulho em cada produto.
Paralelamente, temos vindo a desenvolver uma comunicação própria nos nossos eventos, fortalecendo a presença da marca “É de Leiria” e a ligação entre território, cultura e produto.
Existem planos para exportar estes produtos?
Atualmente, temos vindo a trabalhar nos mercados de França e de Espanha. No entanto, a exportação destes produtos apresenta algumas condicionantes, nomeadamente relacionadas com a exposição e a frescura, o que afeta especialmente produtos como a Morcela de Arroz e as Brisas do Lis.
Apesar desses desafios, temos registado um crescimento na procura fora do país, sobretudo por parte das comunidades portuguesas, onde já existe produção e venda local dos produtos.
Uma parte significativa dos visitantes que vêm a Leiria acaba por levar consigo um cabaz com produtos locais, o que demonstra o reconhecimento e o valor que estes têm vindo a ganhar.
Acompanhamos de perto os objetivos dos nossos operadores, procurando apoiar e reforçar principalmente a divulgação dos seus produtos. O nosso objetivo é continuar a crescer em conjunto com os operadores, sempre lado a lado, promovendo o desenvolvimento partilhado e sustentável do território.
Existiu alguma dificuldade que não estavam à espera de encontrar?
Vou dar um exemplo: participamos recentemente em congressos nos Açores e, para levarmos as Brisas do Lis, tivemos de as transportar congeladas, descongelar no local e fazer o acabamento final. Temos vindo a criar alternativas para ultrapassar estas barreiras logísticas, que já eram conhecidas devido às características dos nossos produtos. No entanto, isso nunca foi motivo para deixarmos de os levar ou de os promover.
A nossa intenção é continuar a superar estas dificuldades, recorrendo também às novas tecnologias que os nossos produtores têm vindo a adotar. Estamos sempre disponíveis para contribuir não só na comunicação mas também em todas as outras áreas que possam modernizar e valorizar os nossos produtos, ajudando-os a chegar cada vez mais longe.
Nos próximos tempos, queremos reforçar a presença dos produtos “É de Leiria” em locais estratégicos, como por exemplo na estação de serviço de Leiria.
Existem novos projetos que pretendem integrar?
Todos os anos fazemos uma avaliação do trabalho desenvolvido, refletindo sobre o que foi alcançado e identificando o que podemos melhorar.
No caso das Brisas do Lis, estamos a trabalhar para que o produto esteja presente em mais pontos de venda. Continuamos a enfrentar o desafio de manter a frescura, mas o objetivo é claro: aumentar a distribuição.
Em relação à Morcela de Arroz de Leiria, pretendemos criar uma associação de produtores que permita dar continuidade ao processo de certificação.
Quanto ao Leitão da Boa Vista, o objetivo é marcar presença em cada vez mais eventos e alargar a rede de pontos de venda em todo o país, promovendo o seu reconhecimento nacional.
Por fim, na Olaria da Bajouca, procuramos aliar o design contemporâneo à tradição artesanal, aplicando o saber fazer local em novos produtos, nomeadamente na área da decoração de interiores. Já demos os primeiros passos nesse caminho e queremos continuar a avançar, valorizando e modernizando esta arte única.
Qual é o produto favorito do Ricardo?
A Morcela de Arroz sempre foi um produto muito presente em minha casa. Por isso, considero-a um produto familiar, e sempre gostei bastante, seja cozida ou grelhada.
Era algo muito associado à matança do porco, um evento familiar em que se preparava comida para todos. Durante o desmanche, era habitual fazer uma sopa de morcela ou preparar o enchido. Relembro esses momentos como uma tradição de antigamente e, para além do sabor, este produto traz-me memórias da infância que valorizo muito e pelas quais tenho grande carinho.
Que mensagem deixa a quem vai visitar Leiria?
Eu aconselho que venham a Leiria, porque a cidade não existe sem vocês. E ao visitarem, vão comprovar que vale a pena esta experiência, podendo também provar os nossos produtos e conhecer a riqueza da nossa cultura.
