Desde cedo que o Emanuel, Pintor de Automóveis na Oficina da AJúlio, descobriu a paixão pela pintura automóvel. Começou como hobby nas férias escolares, mas rapidamente percebeu que queria transformar essa paixão numa carreira. Hoje, com um percurso consolidado e uma enorme dedicação ao que faz, fala-nos sobre os desafios da profissão, os avanços tecnológicos que mudaram o setor, e da importância de trabalhar com rigor.
O que levou o Emanuel a escolher a profissão de pintor automóvel?
Comecei a interessar-me pela pintura automóvel ainda muito novo. Aos 16 anos, aproveitava as férias escolares para trabalhar nesta área, mais como um hobby, porque sempre gostei muito de carros. Depois de sair da escola e cumprir o serviço militar, entrei logo para um concessionário e nunca mais parei.
Já passei por várias marcas, como a Volkswagen e a Toyota, sempre a trabalhar na área da pintura. Mais tarde, recebi um convite para o Grupo AJúlio, onde estou atualmente. Sempre preferi este ambiente porque, além de gostar do que faço, tenho orgulho na qualidade do meu trabalho.
O que me move é fazer bem feito. Gosto de me colocar no lugar do cliente e acredito que vale mais perder um pouco mais de tempo e garantir um bom resultado, do que fazer tudo à pressa. É essa mentalidade que tento passar aos meus colegas mais novos, lembrando que este é um trabalho que exige atenção, técnica e cuidado em cada etapa.
Quais os maiores desafios que enfrenta no seu dia a dia?
Um dos maiores desafios que enfrento no dia a dia é lidar com as cores mais complexas, especialmente as chamadas “cores de efeito” ou metalizadas, que exigem uma aplicação mais detalhada e cuidadosa. Embora a fase de preparação seja parecida para todos os tipos de pintura, a aplicação varia bastante, e é aí que o nível de exigência aumenta.
Como trabalho num concessionário e lido com carros novos, a responsabilidade é ainda maior, a qualidade tem de ser mesmo elevada. Por isso, sinto a necessidade de estar sempre atualizado. Participo em formações com frequência, porque as tintas e os produtos de acabamento estão em constante evolução. Além disso, existem regras e procedimentos específicos a seguir, um pouco como no trânsito: há normas que garantem a segurança e a qualidade do trabalho.
Trabalhar num concessionário como a AJúlio, que tem protocolos com várias marcas, também implica acompanhar as novas tecnologias e métodos que vão surgindo no mercado. Acredito que quanto melhor preparado estiver, melhor consigo responder a essas exigências e entregar um trabalho de excelência.
Fora da oficina, têm alguma ligação com os carros?
Sim, mesmo fora da oficina, continuo muito ligado ao mundo dos carros. Desde pequeno que tenho uma grande paixão por automóveis, especialmente por clássicos e carros de coleção. Gosto de os apreciar e já cheguei a acompanhar provas de rally, uma área que sempre me fascinou.
Em determinado momento pensei em começar a restaurar carros antigos, mas acabei por deixar esses projetos de lado por falta de tempo. Entre o trabalho, a vida familiar e outros interesses, como as bicicletas, tornou-se difícil conciliar tudo.
Ainda assim, tudo o que tenha motor e aceleração continua a captar o meu interesse. Conto com o apoio da família, pois a minha mulher partilha esse gosto por carros, o que ajuda bastante. A minha filha, por outro lado, apoia-me nas provas de bicicleta em que participo, embora não ligue tanto aos carros.
Como é um dia típico de trabalho para si?
O meu dia a dia é focado totalmente na preparação e pintura dos automóveis. Não tenho contacto direto com os clientes, porque esse processo passa primeiro pela receção, onde é feito o diagnóstico e definido o que precisa de ser feito em cada viatura. A informação chega-me já detalhada, indicando exatamente onde devo intervir.
Antes dos carros chegarem até mim, passam por várias etapas, como a bate-chapa, desmontagem e, se necessário, substituição de peças. Só depois entram na fase da pintura, que é a minha especialidade. A minha função é dar o acabamento final e garantir que o carro fique com um aspeto impecável, pronto para ser entregue ao cliente. É ali que o carro fica todo bonitinho.
Tem sentido o impacto tecnológico nesta função, ao longo dos últimos anos?
Sim, ao longo dos anos senti bastante o impacto da tecnologia na área, especialmente no processo de preparação e correspondência de cores. Antigamente, usavam-se catálogos manuais para identificar os tons, por exemplo, para uma mesma cor de código, como o amarelo, podiam existir várias nuances. Hoje em dia, a grande mudança foi a introdução da máquina de leitura ótica, que faz a leitura direta da cor no próprio carro. Esta tecnologia trouxe uma enorme evolução, tornando o processo mais preciso e eficiente.
No entanto, apesar da ajuda da máquina, é preciso saber utilizá-la corretamente: preparar bem a peça antes da leitura é essencial para garantir um bom resultado. Depois da leitura, os dados são transferidos para o computador, que gera a fórmula exata da cor. A partir daí preparar a tinta com base nas bases disponíveis. Em alguns casos, é necessário fazer pequenos ajustes manuais para que a cor fique perfeita, mas isso acontece cada vez menos.
Para mim, esta foi a maior transformação tecnológica na área. As restantes mudanças, como nas pistolas ou lixas, foram mais subtis. Já ao nível dos produtos finais, como os vernizes, houve também uma evolução notável, com melhorias claras na qualidade e no acabamento.
Tem alguma história engraçada que já aconteceu na oficina?
Sim, já aconteceu uma situação bastante engraçada recentemente. Um cliente chegou à oficina depois de fazer uma longa viagem e disse que suspeitava que levava um gato debaixo do carro. Pensava até que o animal já pudesse ter morrido durante o percurso. No entanto, pouco depois de sair da oficina, o gato começou a miar! O cliente voltou, levantaram o carro e lá estava o gatinho, escondido entre os resguardos.
Felizmente, o gato estava bem e acabou por ser adotado por uma colega da receção. Ela até lhe deu o nome do dono do carro, o que tornou a história ainda mais divertida. Foi um momento positivo e diferente do habitual na oficina, deu para rir e mostrou também o lado mais humano do dia a dia de trabalho.
Qual foi a maior lição que aprendeu neste trajeto e que conselhos daria aos mais novos que estão a começar na área?
Ao longo do meu percurso, aprendi que o mais importante nesta profissão é ter gosto pelo que se faz. Tal como um pintor de arte ou um relojoeiro, é um trabalho que exige muita paciência, atenção ao detalhe e dedicação. Não se pode fazer à pressa ou “às três pancadas”. Para ser um bom profissional, é preciso foco, empenho e, acima de tudo, gostar mesmo daquilo que se está a fazer.
Aprendi que os erros fazem parte do caminho. Mesmo com experiência, às vezes há distrações ou falhas, principalmente na parte das cores, e isso obriga a repetir o trabalho. Nesses momentos, o segredo é manter a calma, não entrar em pânico e encontrar soluções com confiança.
O conselho que deixo aos mais novos é simples, mas importante: tenham paciência, não tenham medo de errar e estejam sempre dispostos a aprender. Só erra quem faz, e é com esses erros que se cresce na profissão.